09/09/2014

O professor de yoga

Ultimamente tenho lido histórias de ficção que giram em torno do yoga e também as chamadas yoga memoirs, histórias reais, autobiográficas, de pessoas que encontraram o caminho do yoga e o partilham, uns de forma mais séria, outros de forma mais cómica, com o resto do mundo. Um desses livros chama-se Plus One: Finding God on the Yoga Mat, da Cori Martinez, onde ela conta o seu percurso como professora de yoga, as suas descobertas a nível da espiritualidade e o seu dia a dia como mãe e yogi.

Um dos capítulos do livro é engraçadíssimo. Chama-se "Being a Yoga Teacher", ou ser professor de yoga. É um retrato fiel das ideias pré-concebidas em relação aos professores de yoga - um conjunto de "regras" que as pessoas esperam que os yogis sigam. Fartei-me de rir com a descrição destas regras e, como escreve a Cori, não só os outros que esperam isto dos yogis - muitos yogis também esperam isso de si próprios, apesar de muitas das "regras" serem, como refere a Cori quando se apercebeu das suas expectativas em relação a ela própria enquanto professora de yoga, ridículas, contraditórias e hipócritas. Deixo aqui a tradução das partes mais engraçadas...

Para começar, os professores de yoga (e qualquer um que queria ser uma boa pessoa) devem reciclar. E se estiverem com pressa enquanto limpam o frigorífico e jogarem um frasco com restos de comida para o lixo normal, devem cobri-lo imediatamente com outro lixo, esperar que ninguém veja, e sentirem-se culpados depois.

Também devem estar em boa forma física, embora o seu aspecto não deva ser importante para eles. Não devem perder muito tempo a despachar-se nem a olhar-se ao espelho. Não devem pintar o cabelo, nem gastar muito dinheiro em maquilhagem nem fazer compras em centros comerciais.

Devem ser amigáveis, tolerantes e atenciosos com os outros. Nunca se devem irritar com outros condutores, vendedores, operadores de telemarketing, nem com ninguém (fumadores podem ser a única excepção a esta regra).

Ao conduzir, devem parar sempre que esteja alguém a querer atravessar a rua. Se estiverem com pressa, devem evitar olhar directamente para a pessoa e fingir que só a viram no último momento, quando já for demasiado tarde para parar.

Devem dar sempre dinheiro aos sem-abrigo, sobretudo porque não se preocupam com os seus próprios bens materiais. O dinheiro deve ser de mínima importância para um professor de yoga.

Os professores de yoga devem ter relações amorosas saudáveis e ter a capacidade de comunicar sempre de forma honesta e paciente.

Devem comer apenas comida biológica: nada de farinha refinada, comidas processadas, açúcar, cafeína ou álcool. Devem fazer compras apenas em lojas de comida saudável e levar os seus próprios sacos de compras. Se se esquecerem dos sacos, devem enfiar o que conseguirem na mala e carregar o resto nos braços, esperando não deixar cair nada (aliás, eles não devem mesmo deixar cair nada, porque tudo o que fazem deve ser gracioso).

Podem ser vegetarianos, mas o ideal é serem vegans, a não ser que andem sempre cansados; assim, comer carne biológica de animais livres é a única opção aceitável. Nestas circunstâncias, devem sentir-se muito culpados por tirarem a vida a outro ser vivo por causa do seu egoísmo. E não devem tomar suplementos vitamínicos, pois devem ingerir todas as vitaminas de que precisam através da sua dieta saudável baseada em comida biológica e integral.

Não devem ver televisão. Sobretudo programas violentos ou com grandes níveis de dramas pessoais. Devem sentir-se gratos por cada momento, bom ou mau, e conseguir ver a beleza em cada experiência da vida.

Devem ter uma prática diária de asana, pranayama e meditação. De facto, devem acordar às 5 da manhã todas as manhãs e praticar durante pelo menos 2 horas. Depois, devem lavar as narinas com água salgada usando o neti pot, beber água morna com limão e comer um guisado vegan para o pequeno-almoço. Depois é hora de preparar o almoço, uma salada de vegetais biológicos com folhas verdes escuras, verduras cruas, sementes germinadas em casa e repolho fermentado. Devem planear ir ao mercado de produtores comprar fruta colorida biológica para preparem um batido proteico para o jantar.

Devem ser muito organizados, porque o seu ambiente exterior deve ser um reflexo da sua mente calma e clara. Não devem precisar do amor e aprovação dos outros para serem felizes, e devem estar preparados para dar amor e aceitação a toda a gente à sua volta.

Nunca devem pôr nada à frente da sua prática de yoga, nada. Devem ser tão apaixonados por partilhar o dom do yoga com o mundo que nunca devem cobrar pelas suas aulas porque isso não estaria de acordo com o espírito da prática.

Ao mesmo tempo, devem usar apenas roupa feita de algodão biológico de comércio justo produzida por uma companhia local que doe os lucros para caridade.

E se isto se torna complicado porque não conseguem perceber como é que vão comprar roupa de yoga de 95 dólares, dar aulas de graça, comprar comida biológica e dar o seu dinheiro aos sem-abrigo (e a outras causas importantes), devem andar anos e anos a sentirem-se culpados de cada vez que alguém sugere que cobrar dinheiro, ganhar dinheiro ou querer dinheiro não é yogico.


Ah Ah!

Namasté!


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3 comentários:

  1. Hahaha adorei a ironia utilizada. Confesso que ja tive pensamentos discriminatorios quando soube q um prof de yoga bebia 3 cafes por dia e fumava meio maco... por vezes as pessoas esquecem q eles tb sao humanos e tem os seus deslizes, niguem e perfeito! Agora quero ler o livro todo =p

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  2. LOL, já chorei a rir! ;) Vou partilhar com a minha professora de Yoga!
    Fiquei com curiosidade de ler o livro!!

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  3. Muito bom :)
    Eu estou a acabar de ler um romance, biográfico, "A minha vida em 23 posições de yoga", de Claire Dederer, muito leve e muito giro também.

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